4° LUGAR – POESIA INTERNACIONAL – VIII Concurso Literário "Cidade de Ouro Branco"

  

Torrente

André de Castro
Roma/Itália


Trago pela alma as tuas saudades 

como quem caminha todo encharcado 

De uma torrente quase inextinguível. 

Tuas saudades trazem muitos inflitramentos ao firmamento da existência, desabrigando-me. 

Tudo ensopado das tuas ausências. 

Tudo liquefeito e escorrendo. 

Pondo em correnteza veloz 

a totalidade que me ainda sobra 

do que tu me foste uma vez. 

Tuas faltas desabam por cima da minha presença… caindo em mim como uma erosão estética e existenciária. 

Por vezes sonora, aguento …. 

muita das vezes calada, precário … 

- estático, estátua, estatelado 

Trovoadas interminadas 

de confusão trazida pelo 

não-tu

empossando todo emudecimento 

já aborrecido. 

Me treme os lábios o contido 

Me trinca os dentes o ânimo 

Me congela o aceitamento 

do tanto suportado que 

se prolongam em anos 

em horas, dias e vida. 

Chove dorida 

a ida de quem caminha 

a passos longos dos meus, 

o meu? 

ilhado 

não sabe se enxugar 

se molha, se banha 

enlameando o sentido de tudo 

o que possa vir a ser consolado. 

O raio constante da constatação 

de quem me és em falta 

me transpassa os nervos e me enerva todo o calmo. 

Se rasga ao horizonte noturno 

das inquietudes diluvianas

deixando-me eco perene 

da tua imagem 

a correr pelos rumos dos fatos prestes por jamais serem lembrados 

E que chove chove chove 

e chovendo 

e chovido 

estronda dentro da janela embebida da memória.


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