ONDE O TEMPO SE ESCONDE
Evaristo Souza Soares
Mucuri/BA
Era uma casa sem endereço,
erguida no espaço entre o que foi e o que falta.
As paredes, desbotadas de memórias,
respiravam histórias partidas,
e no chão, passos esquecidos
desenhavam mapas que ninguém podia seguir.
Os dias entravam como estranhos,
carregando cheiros antigos:
uma infância perdida no quintal,
uma voz que ecoava no vazio da sala,
um amor que ainda dançava no silêncio do corredor.
Os olhos, poços de tempo,
afundavam na névoa,
mas às vezes, brilhavam ao toque de uma voz,
como um fósforo riscado na escuridão.
E as mãos, vazias de certezas,
ainda apertavam o ar,
tentando segurar a lembrança antes que o vento levasse.
No coração da casa, uma cadeira balançava,
carregando o peso de um abraço invisível.
E quando alguém chegava —
um rosto familiar ou apenas um vestígio —,
o tempo se abria em frestas,
e por um instante, o ontem era agora.
"Eu sou", murmurava a casa ao vento.
E mesmo quando o nome se apagava,
o toque, a presença, o amor —
eles ficavam,
pois o que importa não se esquece,
mesmo quando a memória dorme.
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