Bem-me-quer, Mal-me-quer
Raquel Maria de Souza Reis
Rio de Janeiro/RJ
Ao acordar, quero que me deixe;
O dia seguirá e desejarei que morra.
Ao me deitar, quero que me beije;
Nos meus sonhos, peço que alguém me socorra.
Em meu sorrir, abraço lágrimas.
Em meu pranto, me despeço do sorrir.
Tornei-me dama anil, permeada de mágoas.
No centro de um labirinto, não sei para onde fugir.
A salvação é um mito, lenda fantástica.
Nada pode me salvar de ti.
Tornei-me dama anil, permeada de mágoas.
Será que, em algum lugar, alguém olha por mim?
Se olha, pode trazer aquela menina de volta?
Menina de cabelo-duro, descontente, mas sorridente.
Se me ouve, dê alimento para toda essa revolta.
Não quero seguir refém desse amor doente.
O peito dói e a alma sangra.
Dia após dia, os tons de rosa perdem a cor.
Sigo me equilibrando nessa corda-bamba.
Na minha ilha, sala de casa, fito nosso circo do horror.
Não quero que me abrace e sorria para mim.
Não quero que me afaste e me deixe assim.
Só.
Não quero que fique e desdenhe de mim.
Não quero que se aproxime e me toque assim.
Não.
Foi chorando que descobri a independência de ti.
Mas, é sorrindo que eu sempre volto.
Na casa de espelhos, busco aquela que eu já fui.
Em meio ao silêncio da noite, eu me exploro.
Há, em algum lugar, um pedaço que é só meu.
Ele é vívido, alegre e muito sofrido.
Pedaço este que nunca te pertenceu.
Que ainda sobrevive a esse amor ressentido.
Desta fração de mim, me despeço ao dormir.
Na manhã seguinte, eu poderei sorrir.
Mas, na noite, eu voltarei a mentir:
— Te quero.
Não, eu não quero mais.
Tampouco, esta droga, conseguiria abandonar.
Eu só queria ter um instante de paz.
Só queria que desistíssemos desse mentiroso amar.
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