2° LUGAR – CRÔNICA – PROSA INTERNACIONAL – VIII Concurso Literário "Cidade de Ouro Branco"

O peso da bondade

Agostinha Monteiro
Vila Nova de Gaia/Portugal





Sempre acreditei que, por mais difícil que o mundo fosse, havia sempre uma forma de o tornar melhor, se cada um de nós fizesse a sua parte. Aos 50 anos, percebi que a minha vida fora moldada por algo que não aprendi na escola, mas sim nos gestos simples do dia a dia: a bondade. Uma atitude pequena, mas poderosa. O meu coração sempre soube perceber as dores e as alegrias dos outros, talvez por isso a minha jornada se tenha entrelaçado com tantas histórias de carinho, apoio e generosidade.

Lembro-me de um episódio que me marcou profundamente. Era uma tarde fria de outono e eu caminhava pela praça central da cidade, tentando aproveitar o pouco sol que ainda restava. Ao passar junto de um banco, reparei numa mulher que estava ali sentada. Os seus olhos estavam cansados, tristes, como se o peso do mundo estivesse nos seus ombros. Ela não pediu ajuda, mas algo dentro de mim disse-me que ela precisava de alguém. Fiquei ali, sem saber ao certo o que fazer, mas o impulso foi demasiadamente forte para o ignorar.

Sentei-me ao seu lado e, com um sorriso suave, disse:

Está tudo bem, minha senhora? Parece que está a carregar um grande peso.

Ela olhou-me com surpresa, talvez não esperasse um gesto tão simples de gentileza. A sua história foi-se desfiando em palavras trémulas, uma confissão silenciosa sobre as dificuldades que a vida lhe tinha imposto: a perda de um ente querido, o peso das responsabilidades que a sobrecarregavam, a sensação de que a vida a tinha deixado para trás.

Escutei-a com toda a atenção. Enquanto ela falava, o tempo parecia desacelerar. Não houve pressa, nem julgamentos, apenas uma troca genuína de sentimentos. Quando terminou, eu disse-lhe apenas:

-Não está sozinha. Estamos todos ligados, de alguma forma. Por vezes, as coisas não fazem sentido, mas sempre podemos encontrar uma maneira de aliviar o peso que carregamos, juntos.

Naquele momento, percebi algo em que nunca tinha refletido de forma tão clara: a solidariedade não é feita de grandes gestos, mas de um olhar atento, de uma mão estendida quando a dor parece insuportável, de um abraço genuíno.

O amor ao próximo, o altruísmo, começam nas pequenas ações, mas têm um impacto profundo. Ao oferecer tempo, escuta, empatia, conseguimos aliviar o fardo de alguém e, ao mesmo tempo, curar o nosso próprio coração, porque ao darmos, também recebemos algo precioso: o bem-estar mental.

A sensação de que em algum momento fizemos a diferença, mesmo que seja de forma discreta, traz-nos uma paz interior que nenhuma conquista material consegue proporcionar.

Foi ali, naquela tarde, que aprendi uma lição profunda sobre o poder da gentileza. Não precisamos de mudar o mundo sozinhos, mas podemos, todos os dias, contribuir para que ele seja mais humano, mais sensível, mais acolhedor. A verdadeira transformação começa em nós, quando escolhemos espalhar o amor, a compreensão e o apoio.

Hoje, olhando para a minha vida, percebo que a bondade é a chave para a minha própria felicidade. Ao ajudar os outros, encontramos o caminho para a nossa própria cura e paz. E, mais importante, descobrimos que, ao estender a mão, também estamos a ajudarmo-nos reciprocamente. A solidariedade, o altruísmo, são formas de alimentar a alma e de manter a nossa mente saudável. Quando nos conectamos de forma genuína com o outro, a vida torna-se mais leve, mais plena e cheia de sentido.

E assim sigo, com a certeza de que os pequenos gestos de bondade podem transformar qualquer dia. Que a verdadeira força está muitas vezes no toque suave de uma palavra amiga, na presença que escuta, na atitude de quem acredita que o bem-estar vem, de facto, da nossa capacidade de cuidarmos uns dos outros.

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