2° LUGAR – CONTO – PROSA ESTUDANTIL – INTERMEDIÁRIO – E.E. Iracema de Almeida – VIII Concurso Literário "Cidade de Ouro Branco"
Sombras do passado
Ernesto Marcio De La Cruz nasceu em Zamora, uma das cidades mais violentas do mundo. Filho de Miguel e Maria De La Cruz, sua infância foi marcada por tragédias. Quando tinha apenas 4 anos, seus pais foram mortos por policiais que os acusaram de tráfico. As balas perfuraram as paredes da casa humilde enquanto Ernesto, pequeno e indefeso, assistia escondido debaixo de uma mesa. O cheiro de pólvora e sangue fresco ficaram gravados em sua memória para sempre.
Sem ninguém da família disposto a cuidar dele, Ernesto foi jogado de casa em casa, passando boa parte de sua vida em lares adotivos. O sistema era cruel, e ele logo aprendeu que não podia confiar em ninguém. Foi aos 10 anos que encontrou Sancho Zamora, um veterano marcado por cicatrizes e histórias de batalhas. Sancho tinha sido um homem de princípios, mas a vida dura o forçou ao crime, tornando-se um membro respeitado dos Los Nuevas. Ele viu em Ernesto um garoto perdido e decidiu moldá-lo, não apenas para a vida no crime, mas também como um filho que nunca teve. Sancho o ensinou a atirar, traficar e sobreviver nas ruas. Passavam noites conversando sobre lutas e arrependimentos, e Ernesto o admirava como um herói.
Com apenas 10 anos, Ernesto já havia sido preso quatro vezes por tráfico e violência. Ele não ia mais à escola, pois sabia que a sobrevivência não se aprendia nos livros. Aos 15, seu nome estava entre os 20 mais procurados do México. Ele se destacava pelo sombrero negro sempre na cabeça, um símbolo de desafio. Um dia, voltando de um encontro com um fornecedor, duas viaturas
cercaram Ernesto. Encurralado, ele mirou cuidadosamente no tanque de gasolina de um dos carros. Uma explosão acabaria com todos ali. Mas antes que pudesse apertar o gatilho, os policiais lhe mostraram o corpo crivado de balas de Sancho Zamora. Ernesto sentiu o mundo desabar. Antes que atirasse, três jovens surgiram e abriram fogo, resgatando-o. Salvador Ortega, o mais próximo de Ernesto, compartilhou uma dor semelhante e se tornaram irmãos de armas.
Unidos pela desgraça, formaram Los Hijos del Diablo. Salvador Ortega, "El Fantasma", era o capitão. Sumia e reaparecia como um fantasma, finalizando inimigos sem ser visto. Ernesto, agora "Mariachi de la Muerte", era o vice capitão. Seu sombrero de ferro era afiado como uma lâmina. Javier Montoya, "El Relámpago", era rápido no gatilho e no pensamento. Ricardo Valenzuela, "Mano de Oro", era o homem dos negócios e cozinheiro de mão cheia. Seu prato favorito sempre arrancava sorrisos de Ernesto. O símbolo da gangue era uma caveira de chifres com um sombrero rasgado, um cigarro aceso entre os dentes e facas cruzadas ao fundo.
Por anos, dominaram Zamora com sangue e pólvora. Mas Aboelita, uma mulher de olhos penetrantes e palavras doces, mudou tudo. Ernesto se apaixonou e, aos poucos, ela quebrou suas barreiras. O fez largar a gangue e tentar uma vida
honesta, ensinando que proteger era mais forte que matar. Os anos foram felizes, mas a paz não durou. Quando Aboelita foi assassinada, Ernesto voltou ao crime, movido por vingança. Ao lado de Ricardo, exterminou a gangue rival, acreditando que o luto estava encerrado.
Meses depois, enquanto vasculhava as coisas de Ricardo, encontrou um bilhete anônimo oferecendo 20.000 pesos pela morte de Aboelita. Com o sangue fervendo, confrontou Ricardo, que tentou explicar, alegou ser um mal-entendido, uma traição forçada. Mas Ernesto não quis ouvir. Uma bala na cabeça encerrou o monólogo de Ricardo, sangue e arrependimento escorrendo pelo chão.
Aos 57 anos, Ernesto fugiu para o campo, tentando recomeçar. Cuidava de animais e da terra, mas o passado o perseguia. Uma gangue invadiu sua propriedade, matando seus animais e ameaçando Marcia, sua galinha favorita. Ernesto desmaiou todos os inimigos, mostrando que o Mariachi de la Muerte ainda vivia. Fugiu para o Brasil, abandonando seu nome e passado. Esperava que a morte o encontrasse um dia, de sombrero na cabeça e paz no coração.
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