Vozes do Morro
Lucio Rodrigues Junior
Tatuí/SP
Das vielas que serpenteiam o concreto,
nasce um grito engasgado de resistência.
O morro não cala; ele canta, ele chora,
ele dança na corda bamba da existência.
Aqui, onde o sol aquece mais do que a pele,
e a chuva insiste em lavar sonhos desfeitos,
há vida que brota das cinzas do descaso,
há raízes que rompem o chão endurecido.
Somos filhos da rua, herdeiros do pouco,
e, no pouco, aprendemos a ser muito.
Cada rosto carrega histórias que o mundo
prefere virar o rosto para não ver.
Falam de nós com vozes distantes,
mas não nos conhecem, não sentem a poeira
que gruda na pele quando o asfalto some,
não ouvem o samba que ecoa nos becos.
A favela respira, ela vive, ela ama.
Ela é mãe que acolhe, é pai que protege,
é criança que ri entre escombros e muros,
é o sonho que insiste, mesmo em tempestades.
Mas o preconceito desce como neblina,
tentando apagar as luzes da nossa história.
Chamam-nos de perigo, de peso, de sombra,
sem saber que somos o brilho que eles negam.
Sobrevivemos porque sabemos criar.
Criamos pontes com os restos do que sobrou,
erguemos lares com paredes invisíveis,
e aprendemos a fazer do amor a nossa arma.
Então olhe para nós e veja além do estigma,
veja o povo que não desiste, que luta, que sonha.
Veja a favela que é poesia viva,
uma guerra travada com fé e sorriso.
E que o mundo entenda, finalmente,
que resistir, aqui, não é opção:
é a única forma de existir.
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