1° lugar – CONTO – PROSA ESTUDANTIL – FUNDAMENTAL FINAIS – Colégio Batista Mineiro Unid. Ouro Branco – VIII Concurso Literário "Cidade de Ouro Branco"
As sombras da vida
Você já imaginou contar para uma mãe que seu filho amado estava morto? Já imaginou olhar nos olhos dela e dizer que todas suas preces foram em vão? E que nunca mais ela veria seu primogênito?
Era o que Lúcia pensava naquela sexta à noite. Como poderia contar para sua vizinha e mãe de seu melhor amigo que ele estava morto? A mulher nunca havia pensado em um diálogo tão difícil em toda sua vida, nunca imaginou ter de contar a sua vizinha velinha e feliz, que fazia de tudo para todos, desde uma oração aos mais doentes até uma canja aos mais empobrecidos; que sua vida havia acabado naquela sexta à tarde.
Sem saber o que fazer, Lúcia decidiu esperar pelo próximo dia, pensava ser mais fácil após um certo tempo. No dia seguinte, Lúcia decidiu finalmente contar a verdade. Era um sábado comum a todos menos para ela e sua vizinha, Bety.
Ao chegar à casa de Bety, Lúcia já não se sentia tão bem, havia uma dor no peito, pensava ser apenas a angústia. “bom dia Bety, como a senhora está? -perguntou Lúcia. “como alguém que não sabe da morte do próprio filho “-Lúcia pensou. A vizinha a recebeu bem, ofereceu um cafezinho e iniciaram uma conversa tranquila, mas ao perceber a jovem inquieta Bety indagou “nossa querida, você não parece muito bem “. Logo Lúcia sentiu grandes arrepio e suas forças aos poucos indo embora. Quando olhou para sua vizinha viu algo extraordinário. “havia alguém atras dela? quem era? “-pensou Lúcia.
“Era ele? “-ela pensou. “Antônio, o filho morto de Bety e seu melhor amigo. Não tinha como, aquilo era loucura, ela correu, e gritou mas ninguém a escutava. Andando pelas ruas da cidadezinha a mulher ficou horrorizada, ela podia ver todos os mortos sendo a sombra de seus familiares. A esposa do homem viúvo, os legítimos da menina adotada, o mendigo ..., a balconista ..., ela podia ver todos.
Com o desespero a flor da pele, ela tentou de todas as maneiras arrancar os próprios olhos. As sombras a olhavam com desprezo e todos os vivos a ignoravam. Lúcia se escondeu dentro de sua casa e de lá não saiu pelos próximos meses.
Sua vizinha se tornou rude, nem a visitar a idosa ia. Lúcia ficava indignada, como todos eles simplesmente a ignoravam? O que ela havia feito?
Novembro estava chegando e com ele o Dia dos Mortos. A mulher não tinha o costume de visitar seus falecidos parentes, mas naquele ano era diferente, algo a chamava no cemitério. Ela não sabia o que, mas mesmo assim resolveu levar flores.
Ao chegar ao cemitério, Lúcia observou inúmeras pessoas junto de suas sombras chorando por vidas perdidas. As sombras a olhavam de forma estranha como, se ela não fosse bem-vinda. Ao chegar ao túmulo de seus familiares, ficou desacreditada.
“Ai meu Deus... eu estou morta? “– gritou Lúcia.
Foi ao ver sua foto junto ao túmulo de sua família, que ela descobriu toda a verdade. No dia em que seu coração apertou e que a sombra de Antônio apareceu, foi o exato momento em que Lúcia teve um infarto fulminante, e sem ao menos perceber se tornou uma sombra. Uma sombra sem alguém e por isso a olhavam de forma torta. Ela estava simplesmente morta e excluída por todos.
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