HORS CONCOURS – IFMG OURO BRANCO – CONTO – AVANÇADO – PROSA ESTUDANTIL – VII Concurso Literário "Cidade de Ouro Branco"
Vida de professora
Rojane de Souza Brasil Oliveira Licenciatura em Pedagogia – 5º período
Ela estava exausta. Tinha passado o dia de seu aniversário em mais um curso de capacitação. 50 anos... meio século! Mas nada naquele dia parecia especial. A não ser pelas mensagens protocolares nas redes sociais, que ela respondera com lacônicos “obrigada” e “amém”, a data passara em branco. Nenhum presente, abraço, bolo com velas... nem mesmo um telefonema. Subitamente lembrou-se da comemoração dos 15 anos, o baile, o primeiro namorado, os muitos amigos. Aos 20, a balada com as amigas da faculdade. Aos 30, a viagem dos sonhos dos sonhos com a família. Aniversários eram datas felizes. Mas isso foi há muito tempo. Antes da perda dos pais. Do abandono do marido. Dos filhos crescidos, formados e distantes. Bobagem. A vida era assim mesmo.
Subiu as escadas até a portaria. “Dona Lúcia” – ouviu a voz do porteiro – “encomenda pra senhora”. Devia ser uma daquelas parafernálias pedagógicas que ela adquiria na internet, mais por hábito do que por interesse. Pegou a caixinha pequena, leve e sem remetente. Entrou no elevador, apertou mecanicamente o número do andar e subiu, tentando imaginar o conteúdo.
Abriu a porta e sentou-se no sofá. Usou a chave de casa para abrir o lacre. Tinha muitas tesouras, só estava cansada demais para buscar. Levantou a tampa e encontrou, surpresa, vários papeizinhos coloridos, escritos à mão, junto a fotos de crianças. Reconhecer imediatamente os rostinhos. Eram os alunos de sua primeira turma de alfabetização. Todos agora já estavam na casa dos 30 anos, certamente. Nos bilhetes, frases que fizeram brotar lágrimas e sorrisos. “Obrigada por me fazer gostar de aprender”. “Eu me tornei professora inspirada por você”. “Eu gostaria que você fosse professora dos meus filhos.”
No fundo da caixa, um porta-retratos com a turma, agora adulta, reunida e segurando uma faixa onde ela leu, com os olhos embaçados: “parabéns para a melhor professora do mundo”! Não importava se era clichê. Nem se de fato ela era a melhor. Naquele momento, certamente era a mais feliz. Não se sentia mais velha, tampouco sozinha. Só estava cansada. Abraçou a caixinha, recostou-se no sofá e adormeceu, embalada de amor e esperança.
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