3° lugar – CONTO – PROSA ESTUDANTIL – INTERMEDIÁRIO – E.E. Iracema de Almeida – VII Concurso Literário "Cidade de Ouro Branco"

 Estrela cadente 

Maria Eduarda Pedrosa
2ª série - Ensino Médio



Já fazia exatas duas semanas que Maria, Arthur, Lilian e Tiago estavam visitando Nova Iorque e Maria estava a dois passos de perder a cabeça.

Na primeira semana foi fácil. Era simples fingir estar namorando seu melhor amigo. E para os pais de Tiago, eles eram um dos casais mais lindos que já conheceram, mas tudo isso não passava de uma ótima atuação de ambas as partes. Arthur estava sempre disposto a deixar os dois confortáveis, facilitava tudo ao redor deles, e a natureza introvertida de Maria evitava que os dois tivessem que demonstrar afeto em público frequentemente.

Em uma tarde preguiçosa, todos decidiram passar o dia na piscina da mansão dos pais de Tiago. Lilian, Tiago e Arthur embarcaram em um jogo de marco polo enquanto Maria, deitada em uma espreguiçadeira, folheava um livro que Arthur havia lhe comprado. O garoto sempre roubava olhares para onde a garota estava deitada, como se ela fosse precisar de socorro imediato ou pudesse desaparecer caso ele se concentrasse o suficiente no jogo da piscina.

Efigênia, mãe de Tiago, como uma boa anfitriã, passou pelas portas de vidro que davam acesso à área de lazer, segurando uma bandeja com copos de limonada, e o que pareciam ser amendoins. Os garotos e Lilian gritavam na piscina espirrando água uns nos outros e nem notaram a presença de Effie, como Lilian gostava de a chamar.

Maria colocou seus óculos de sol na ponta da cabeça e sorriu para ela. “Muito obrigada, senhora Efigênia!”

“O dia está bem quente, achei que vocês gostariam de um refresco,” ela disse, se sentando na espreguiçadeira ao lado dela.

“Duvido que algum deles vá sair da água tão cedo.”

“E por que você não está lá com eles também?”

“Arthur e Tiago podem ser extremamente competitivos,” ela começou, e a senhora deu uma risadinha. “E se estou sendo sincera, eu também sou, então para o bem da sanidade de Lilian, um de nós precisa dar o braço a torcer e se retirar da diversão.” Eles compartilharam uma risada.

“Eles são como irmãos,” Efigênia disse como se fosse um grande segredo, e Maria concordou com a cabeça. “Não diga a Tiago e Arthur que eu disse isso, mas acho que você e Lilian tiraram a sorte grande.”

“É?”

“Quando Lilian me ligava do Brasil contando sobre vocês, eu sempre dizia a ela que você era a mais sensata e ponderada deles e eu nunca iria entender como você estava apaixonada por alguém como o Arthur,” Maria ia abrir a boca para protestar que na verdade ela não sabe como foi sortuda o suficiente para ter um amigo como ele, mas a mulher levantou um dedo. “Até vocês chegarem na porta

da minha casa. No primeiro dia ele carregou as suas malas pela escada enquanto não soltava a sua mão, ele te olhava pela mesa durante o jantar, no almoço no centro, eu notei você colocando suas azeitonas no prato dele e colocando os tomates no seu, os dois em silêncio, completamente acostumados com a presença um do outro.”

A garganta de Maria deu um nó que ela não conseguiria desatar tão cedo. Ela deu um sorriso sem dentes.

“Dividimos um dormitório quando éramos adolescentes e moramos juntos desde os 17 anos, a gente se acostuma.”

Efigênia sacudiu a cabeça e continuou, “Estava agora na cozinha preparando a limonada de vocês e olhando pela janela, Arthur te lança olhares a cada cinco minutos e toda vez que você termina um capítulo do livro, você olha por cima das páginas para checar se ele está por perto. Enquanto jogavam bola, Tiago tentou chegar na beirada da piscina, perto de onde estamos agora, e seu namorado deu apenas uma olhada para ele como quem diz ‘você não vai atrapalhar a paz dela.’ É como se vocês gravitassem um ao redor do outro, sabe? Como Lilian e Tiago, vocês estão conectados. É um clique, entende?”

Como Maria queria não entender. E está há 5 anos tentando não entender. Toda vez que seu cérebro chega perto desse assunto, ela desvia, se ocupa, bebe, lê um livro novo porque… porque as coisas são como são. E ela e Arthur são melhores amigos. Efigênia está olhando pra ela com um sorriso maternal tão reconfortante que Maria cogita contar toda a verdade para ela ali mesmo. Mas ela também pensa qual é a verdade. Realmente. Porque as linhas entre ela e Arthur estão tão ameaçadas que a garota já não sabe onde tudo é real. A falta de respostas vinda da menina faz o rosto da mãe de Tiago mudar de expressão por alguns segundos, e antes que ela pudesse abrir a boca para terminar de arruinar todo o controle que Maria tenta ter, Arthur aparece do lado deles, com o corpo todo molhado, a bermuda colada nas coxas torneadas depois de 7 anos no time de futebol. O garoto com um bronzeado que o Brasil permitia. O garoto com os cabelos negros colando em sua testa. Arthur estava sorrindo pra ela como se Maria fosse capaz de pendurar as estrelas no céu.

“Maria!” O garoto exclamou e se inclinou para dar um beijo na bochecha dela.

“Ah!” exclamou ela, franzindo seu nariz em reprovação. “Não chega perto de mim, você está parecendo um cachorro molhado!”

Arthur riu e se virou para Efigênia. “Olha como minha namorada me trata, senhora E!” Eles riram novamente. “Você tem 10 segundos, Maria.”

“Pra quê?”

“Pra correr antes de eu te jogar na piscina,” ele diz calmamente, pegando um copo de limonada da bandeja.

“Você não faria isso.” A garota olhou inocentemente para ele, mas já estava colocando seu livro em cima da mesa.

“10…”

“Arthur, eu estou confortável aqui.”

“9…”

“Eu estou tendo uma conversa agradável com Efigênia.”

“Não a envolva nisso!” O garoto disse em tom de brincadeira. “8…” “Arthur.”

“7…”

Maria se levantou da espreguiçadeira e começou a correr para longe da piscina. Isso deu a ela 2 segundos de vantagem antes do corpo atlético do jogador de futebol de seu “namorado” a alcançar, rindo. Arthur colocou seu braço ao redor da cintura da menina e a puxou para contra seu corpo. “Você achou mesmo que conseguia fugir de mim?”

Maria tinha várias respostas para essa pergunta mas escolheu gritar: “Você nunca irá me levar viva!” E começou a se debater no aperto do amigo.

A risada do garoto cortou o céu como uma estrela cadente e antes que Maria pudesse realizar um desejo, ela se viu sendo jogada na piscina junto com seus amigos que começaram a gritar, rir e jogar mais água para fora da piscina.

Já faziam exatas duas semanas que a turma estava em Nova Iorque e Maria estava a dois passos de perder a cabeça.

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