HORS CONCOURS – CONTO ESTUDANTIL – INTERMEDIÁRIO – Colégio Batista Mineiro Unid. Ouro Branco – VII Concurso Literário "Cidade de Ouro Branco"
A última pincelada
Nicole Lopes Kunzmann 3ª série - Ensino Médio
Os tons frios do ambiente contrastavam com as cores vibrantes das tintas que eram cuidadosamente pinceladas na tela, trazendo uma sensação de veraneio para a pessoa que as aplicava com tanto apreço, mesmo que seu corpo estivesse buscando por algo para esquentá-lo naquele inverno. A luz atravessava a janela, iluminando a paleta com os pigmentos selecionados sobre a mesa, e o som de passos ecoava por todo o ambiente.
Quando se aproximava das quatro da tarde, as mãos que trabalhavam duro para terminar aquele quadro no mesmo dia cessaram, para que os ouvidos pudessem escutar o som da porta sendo aberta, a pele sentisse o gélido sangue escorrendo e os olhos vissem, pela última vez, as cores da pintura, para sempre inacabada.
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Kate Kim estava se preparando para jantar em seu apartamento, uma conquista cheia de decorações nas paredes que seu trabalho acabava de permitir, quando seu telefone tocou. Ela não queria atender por já imaginar do que se tratava, afinal, sabia do que iria fazer parte quando se candidatou a esse trabalho, mas sua sensação de dever e sua curiosidade eram maiores.
Ao atender o telefonema, uma mulher chamada Ângela Abbud, com a voz chorosa pedia para que a mais conhecida jornalista investigativa de sua década a ajudasse. Um colega da jovem, que era estudante de artes, havia sido encontrado morto e, até então, os esforços da polícia não haviam sido suficientes para descobrir quem era o responsável por tal tragédia.
Kate iniciou sua pesquisa sobre a vítima, diversas manchetes estampavam o nome de Jean Jones, um jovem e muito promissor pintor que obteve um estrondoso sucesso no início de sua carreira após ter sido descoberto por um renomado curador na escola de artes local. Seus quadros eram conhecidos pelo uso de pigmentos especiais e pela complexidade das cores aplicadas.
Com as informações essenciais coletadas, a jornalista seguiu rumo ao local do crime para conseguir mais informações. O contato com seus amigos no apartamento do jovem, onde tudo havia ocorrido, permitiu que Kate percebesse inconsistências no fato. A posição em que a vítima havia sido encontrada indicava que a morte havia sido causada por um esfaqueamento enquanto pintava. Porém, a ausência de indícios de luta no local e a rigidez do corpo eram sinais de que algo estava irregular e impedia a solução do caso.
A paleta deixada pelo artista chamou a atenção da investigadora, assim como a pintura inacabada, que pendia sobre o cavalete. As cores eram únicas e possuíam um brilho especial, aquela provavelmente seria a obra-prima do jovem. Outro elemento do ambiente se destacava, assim como em seu apartamento, as paredes do ateliê em que tudo ocorreu eram repletas de obras dos mais diversos colegas de Jean.
Após sua análise da cena, a jornalista contatou sua chefe informando do caso que seria o próximo furo do jornal, e se encaminhou para a escola de artes buscando entrevistar os artistas cujos quadros decoravam a casa da vítima. Kate encontrou Ângela, que era fotógrafa e amiga do pintor desde a infância, ela contou sobre os relacionamentos da vítima, sobre sua personalidade e como estava devastada pela perda.
Em seguida interrogou Regina, uma pintora que trabalhava em um quadro destoante dos de Jean, por ser feito exclusivamente em tons de cinza. Ela era a maior rival do jovem, mas, mesmo assim, afirmou que o relacionamento de ambos era amistoso e que admiravam o trabalho um do outro. Encostado no canto de sua sala, estava uma obra chamativa em vermelho, que, após ser questionada por Kate, afirmou desconhecer a origem, mesmo que a admirasse como se fosse sua autora.
Por fim, a investigadora perguntou a Timothy sobre sua relação com o falecido pintor. O garoto que explorava diversas formas de arte afirmou ser o maior admirador do colega, e estar constantemente interessado em trabalhar em conjunto. As obras que haviam sido confeccionadas em colaboração com as outras entrevistadas estavam expostas por toda a sala em que trabalhava, mostrando seu amor pela arte e marca única de técnicas pouco convencionais em suas obras.
As informações coletadas foram muito úteis para que Kate conseguisse chegar a uma conclusão. O teste das tintas que estavam sendo usadas por Jean confirmou que além de adornarem a pintura, aquelas cores levaram o artista a ser paralisado, possibilitando o golpe fatal. A vida do pintor se tornou vermelha em consequência da tinta cinza que usava para iluminar seus quadros, já que o tálio não era um elemento favorável aos cenários de natureza que ele retratava.
Não restavam dúvidas de quem era o verdadeiro culpado, a arte deixava tudo claro como o sol que entrou pelo ateliê na fatídica hora do crime. Um quadro de pinceladas vermelhas havia mostrado a Kate tudo que precisava, as marcas cinzas no canto indicavam que o artista produzira outra obra paralela a aquela e que sua intenção era de impedir que qualquer concorrência pudesse vê-lo.
A informação foi transmitida a polícia, e a matéria publicada pela investigadora revelou os acontecimentos para toda a população. Um colega de Jean havia sido o responsável por sua morte, já que invejava as proporções de sua carreira e acreditava que o trabalho produzido por outros era bem melhor. A pintura da sala de Regina foi confiscada para análise, após ter sido esclarecido que seu verdadeiro autor era Timothy.
O artista queria que seu trabalho fosse notado pela colega, assim como acreditava que as produções da garota deveriam ser mais reconhecidas. Sua obsessão o levou a planejar o crime que chamava de obra-prima. Envenenar lentamente aquele que impedia a ascensão de Regina e conjuntamente produzir uma pintura para que ela finalmente valorizasse seu trabalho. Porém, foi descoberto por Kate, que notou a inveracidade na sua fala e percebeu que ele seria o único a explorar o material usado na fatídica obra.
O mistério foi resolvido e a jovem investigadora voltou para seu apartamento para descansar depois de muito trabalho. Na entrada de sua casa percebeu um embrulho sem remetente que a intrigou. Mas ao abrir se tranquilizou com a lembrança de que tudo estava terminado, exceto pela obra que agora faria companhia às outras já penduradas em sua parede.
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