2° lugar – CONTO – PROSA ESTUDANTIL – INTERMEDIÁRIO – Colégio Arquidiocesano de Ouro Branco – VII Concurso Literário "Cidade de Ouro Branco"
Despertar da existência
Letícia de Sá
2ª série - Ensino Médio
Há alguns dias, uma sensação estranha sobre a vida começou a me consumir. Dores no peito
surgiam sem explicação clara, mas a vida continuava, repleta de complicações, amores não
correspondidos, paixões efêmeras, pendências do passado, culpa persistente e lembranças que me
assombravam a cada instante.
Em um desses dias, exausta, decidi me sentar em um banco de uma praça, ao meu lado, uma
senhora de idade avançada, cujo olhar gentil me alcançou, perguntou com simplicidade:
"Como você está?"- respondi com um suspiro: "Estou bem, apenas cansada."
"E de que está cansada?", indagou ela.
"Cansada da vida", murmurei.
"A vida? Mas minha querida, o que te assusta tanto para querer desistir tão jovem?", ponderou a
senhora.
"Me inquieta o fato de que a vida seja minha única oportunidade de existir, e ainda assim devo
seguir adiante, mesmo sabendo seu inevitável desfecho", confessei.
"Minha querida, toda vida é temporária. Grandes e pequenas coisas todas morrem... Aprecie ela,
pois o amanhã é uma esperança, nunca uma promessa", disse ela.
Voltei para casa naquele dia com os pensamentos tumultuados, tentando ignorar as palavras
daquela senhora. Mas no dia seguinte, ao retornar à praça, lá estava ela novamente, como se me
esperasse.
"Olá, minha querida. O que te traz aqui novamente? Ainda cansada da vida?", questionou.
"Sim, ainda não entendi o valor da vida para continuar vivendo", confessei.
"Qual é o seu maior medo?", perguntou ela.
"Tenho medo de envelhecer e não realizar meus sonhos de infância", admiti.
"Minha querida, a beleza definha porque é bela. Não desista da vida sem ao menos tentar senti-
la", disse ela
De volta para casa, as dores no peito persistiam, assim como os pensamentos insistentes. Mas
um dia, ao retornar à praça, a senhora não estava lá.
Pela primeira vez, parei para refletir sobre suas palavras.
Foi então que uma mão tocou meu ombro. Olhei para trás e era a senhora, pálida.
"Abraçar a vida significa aceitar a morte. E quando ela chegar, não se assuste. Parta em paz,
descanse", disse ela, olhando-me nos olhos.
Foi quando percebi que aquela senhora era meu reflexo da morte, que me alertava diariamente.
E quando me dei conta, vi que estava morta.
Aquilo era água que descia dos meus olhos, percebendo que não aproveitei a vida, apenas a
questionei.
E foi aí que aprendi: a morte não é um sonho, mas um despertar.
E, ao morrer, voltamos a ser o nada.
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