Amnésia
Luiz Henrique Sormani Barbugiani
Curitiba/PR
Em uma tarde ensolarada, passava pela rua principal de uma pequena cidade do interior um senhor, com a aparência envelhecida, o que o deixava com ares de sapiência e, apesar dos passos firmes ao caminhar e do olhar retilíneo que não desviava a direção, parecia um tanto desnorteado. Quando o homem passou pela porta do único museu da cidade, parou por alguns minutos e ingressou no prédio. A atendente da recepção, surpresa com a aparição, indagou-o sobre a sua presença no salão. O cavalheiro, com certo incômodo, perguntou se poderia utilizar o banheiro por alguns minutos. Ao ser autorizado, ingressou no local e desapareceu. Depois de cerca de sessenta minutos sem o retorno do ancião, a atendente foi procurá-lo. Bateu na porta, chamou o senhor e absolutamente nada. Ela não podia adentrar no sanitário masculino, por isso, chamou o vigilante que imediatamente abriu a porta e depois de poucos minutos retornou sem sucesso porque não havia nada, nem ninguém no banheiro.
Como se tratava de um vilarejo com poucos habitantes, a notícia se espalhou muito depressa e de repente o museu ficou repleto de pessoas. Quase que instantaneamente toda a cidade sabia do ocorrido e divagava sobre o que teria realmente acontecido no museu.
Passados alguns meses, cientistas e pesquisadores da capital chegaram para averiguar os fatos. Havia um forte boato no sentido de que o idoso deveria ter sido abduzido por extraterrestres. A cidade estava em polvorosa. Nenhum sinal concreto foi identificado pelos cientistas. Após semanas de investigações, deixaram a cidade.
O sobrinho da atendente de oito anos de idade foi visitar a tia no museu quatro semanas após o evento. Ao chegar no saguão, avistou a irmã de sua mãe e prontamente a abraçou. Como estava muito quente, após alguns copos de água, necessitou ir ao banheiro. Ele não sabia o que sucedera no local porque, como era uma criança, os familiares o pouparam dos detalhes.
A vida é muito estranha e cheia de surpresas. Onde menos se espera, pode se encontrar a solução de enigmas e, por mais que se subestime uma pessoa ou criança, elas podem descobrir coisas inusitadas e nós temos a possibilidade de aprender com elas. Ao sentar no vaso sanitário, leu na porta quando a fechou por dentro: “Estive por aqui e sairei pela janela. Sou um cidadão com experiência e vivência, quanto tempo vão demorar para descobrirem que sou capaz de fazer muitas coisas e que não tenho amnésia”?
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