A POESIA DE KUNHÃ
Marina Barrichello Marone
São Paulo/SP
A noite era escura e comprida
Como a cauda de uma tietinga
Kunhã andava, exaurida
Amassando na sola a restinga
E essa indígena machucada
Tinha as palavras nas lágrimas
A face negra encharcada
De belas e luzentes rimas
Kunhã se sentou nas areias
Olhando a face terna da Lua
E, ouvindo os cantos das sereias,
Deitou-se, ferida e nua
A Lua, diante da maravilha
Daquele corpo salgado
Despencou, caindo na ilha
Cantando pelo céu rasgado:
“Kunhã, seja minha amante
E você terá tudo no espaço
Dos cometas de diamante
Aos planetas de enxofre e aço
Terá a chuva de meteoros
As nuvens, o Sol, o poente
Deitará no colo de Oroboros
Correrá feito estrela cadente
Aceite a minha proposta
E você terá muitíssima sorte
Obterá, finalmente, a resposta
De como clarificar vida e morte”
A mulher, finda a declaração
Apenas suspirou a maresia
E percebeu, ali no mole chão,
Que chorara uma poesia
Dizia:
“A noite era escura e comprida
Como a cauda de uma tietinga...”
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