1° LUGAR – POESIA NACIONAL – VII Concurso Literário "Cidade de Ouro Branco"

A POESIA DE KUNHÃ

Marina Barrichello Marone
São Paulo/SP


A noite era escura e comprida

Como a cauda de uma tietinga

Kunhã andava, exaurida

Amassando na sola a restinga


E essa indígena machucada

Tinha as palavras nas lágrimas

A face negra encharcada

De belas e luzentes rimas


Kunhã se sentou nas areias

Olhando a face terna da Lua

E, ouvindo os cantos das sereias,

Deitou-se, ferida e nua


A Lua, diante da maravilha

Daquele corpo salgado

Despencou, caindo na ilha

Cantando pelo céu rasgado:


“Kunhã, seja minha amante

E você terá tudo no espaço

Dos cometas de diamante


Aos planetas de enxofre e aço


Terá a chuva de meteoros

As nuvens, o Sol, o poente

Deitará no colo de Oroboros

Correrá feito estrela cadente


Aceite a minha proposta

E você terá muitíssima sorte

Obterá, finalmente, a resposta

De como clarificar vida e morte”


A mulher, finda a declaração

Apenas suspirou a maresia

E percebeu, ali no mole chão,

Que chorara uma poesia


Dizia:


“A noite era escura e comprida

Como a cauda de uma tietinga...”

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